Astrofísica: Kepler encontrou inúmeros planetas com o tamanho da Terra

Astrofísica: Kepler encontrou inúmeros planetas com o tamanho da Terra

 

A principal sonda de caça planetária da Nasa detectou 3.500 candidatos a planetas

 

INFINITUDE DE PLANETAS: O Telescópio Espacial Kepler, da Nasa, encontrou mais de 3.500 candidatos a planetas além do sistema solar em seus três primeiros anos de observações.

 

 

Há pouco mais de duas décadas, nenhum planeta havia sido detectado fora do sistema solar. Agora, mais de mil planetas extrassolares já foram confirmados, e na segunda-feira a equipe do Telescópio Espacial Kepler anunciou um lote de mais 833 candidatos a planetas para se somarem à conta.

 Essa vastidão de riquezas está muito além do que cientistas ousavam esperar antes de a Nasa lançar a missão Kepler, em 2009. O telescópio, orbitando o Sol, identifica planetas ao observá-los ‘transitar’, ou passar na frente, de suas estrelas, reduzindo brevemente a luz das estrelas. “Quando comecei a trabalhar com o Kepler pela primeira vez, logo antes do lançamento, eu achava que o telescópio talvez encontrasse mil planetas”, contou Jason Rowe, astrônomo do Instituto SETI (Busca por Inteligência Extraterrestre, em inglês), durante uma conferência de imprensa na segunda-feira na Conferência Científica Kepler em Moffett Field, Califórnia.

 Na realidade, o Kepler descobriu mais de 3.500 candidatos a exoplanetas em seus três primeiros anos, incluindo planetas grandes e pequenos, mundos rochosos e gasosos, e um total de 647 possíveis planetas que parecem ter o tamanho da Terra. “Nós estamos descobrindo que existe uma grande variedade de sistemas lá fora. Se você consegue imaginar, o Universo provavelmente faz”, comentou Rowe. 

Cientistas agora sabem que não faltam planetas no Universo. Com base nas descobertas do Kepler, pesquisadores estimam que nossa Via Láctea, sozinha, poderia abrigar cerca de 140 bilhões de planetas. A pergunta que não cala: Algum deles abriga vida? A melhor aposta para encontrar vida como a conhecemos é procurar ambientes habitáveis que compartilhem as confortáveis ofertas terrestres: muita água líquida, atmosferas protetoras, e uma estrutura estável, rochosa, com a quantidade certa de luz solar. Astrônomos definiram “a zona habitável” como várias distâncias ao redor de estrelas, com base na temperatura, que tem maior probabilidade de oferecer essas amenidades. Até agora o Kepler encontrou 104 candidatos que parecem residir nas zonas habitáveis de suas estrelas – 10 deles têm menos de duas vezes o raio da Terra. Para saber se qualquer um desses mundos realmente tem as coisas certas para a vida, serão necessárias observações feitas com a próxima geração de telescópios.

Enquanto isso, cientistas estão usando estatísticas do Kepler para conseguir uma ideia melhor a respeito das tendências gerais em relação ao zoológico planetário da galáxia. Entre estrelas semelhantes ao Sol, cerca de 22% devem abrigar um planeta com o tamanho da Terra na zona habitável, de acordo com resultados anunciados na segunda-feira por Erik Petigura da University of California, Berkeley. “A principal pergunta que acho que todos fazemos é: será que essa bola de rocha em que vivemos é muito comum?”, declarou Petigura na conferência de imprensa. “O quanto a vida é rara ou frequente no Universo? Os resultados que estão vindo do Kepler são importantes para responder essa pergunta”.

O telescópio Kepler parou de coletar dados após um par de rodas de reação defeituosas ter prejudicado sua capacidade de direcionamento preciso, em maio. Espera-se que, em algum momento do ano que vem, a Nasa decida se o telescópio deve iniciar uma missão diferente (não há como consertar os componentes quebrados). Enquanto isso, astrônomos ainda têm um tesouro de dados do quarto ano de observações do Kepler para procurar por mais sinais planetários. Os planetas mais parecidos com a Terra – mundos pequenos circulando suas estrelas em órbitas anuais – provavelmente serão descobertos nesse último lote de dados, porque suas órbitas lentas significam que o Kepler precisava de mais tempo para observar seus trânsitos repetidos. 

No fim das contas, o Kepler só arranhou a superfície – ele só observou 1/400 do céu. Dentro dessa pequena janela, porém, o observatório descobriu que cerca de 70% das estrelas têm planetas, o que significa que a Via Láctea é um lugar movimentado. “Se algum dia conseguirmos viajar entre as estrelas, provavelmente veremos muitos engarrafamentos”, brincou o principal pesquisador do Kepler, William Borucki do Centro de Pesquisa Ames, da Nasa.