Filosofia Cultural: Compartilhar arquivos não prejudica a indústria cultural, diz estudo

Filosofia Cultural: Compartilhar arquivos não prejudica a indústria cultural, diz estudo

Pesquisadores da London School of Economics and Political Science questionam os números de declínio da indústria e sugerem novas políticas para fortalecer a criação e a inovação

 

 

 

Editora Globo
Propaganda antipirataria da agência italiana TBWA recriou astros da música com CDs (Foto: divulgação)

Você já deve ter ouvido inúmeras vezes o quanto a pirataria está matando a música, ou massacrando o cinema, ou acabando com empregos. Sim, os números de venda de discos caíram. Mas isso significa que a indústria de entretenimento está com os dias contados?

Não - pelo contrário, segundo o estudo "Copyright and creation", da London School of Economics and Political Science. A recomendação dos pesquisadores é que o governo da Inglaterra olhe para dados mais objetivos e não se paute apenas pelos interesses da indústria do entretenimento quando for propor uma nova política de copyright para o país. E por quê? Porque, segundo o estudo, o compartilhamento de arquivos está ajudando, e não destruindo as indústrias criativas.

“Ao contrário do que dizem, a indústria da música não está em declínio terminal, mas mantendo seu espaço e mostrando saúde financeira. Os lucros das vendas digitais, serviços de assinatura, streaming e performances ao vivo compensam o declínio na venda de CDs”, disse Bart Cammaerts, um dos autores do estudo.

A indústria de games está indo muito bem - é só lembrar da quebra de recordes do último grande lançamento na área, o GTA V (em um dia de lançamento, ele arrecadou US$ 800 milhões). A área editorial está estável. E, segundo o estudo, a indústria cinematográfica continua quebrando recordes de lucros. Em 2012 a arrecadação foi recorde: US$ 35 bilhões, um aumento de 6% em relação ao ano anterior.

E a indústria da música também está indo relativamente bem, diz o estudo. Os lucros de shows e vendas digitais aumentaram “significativamente” desde 2006. A venda de discos caiu. Para os pesquisadores, a área está estagnada - e não em plena crise. Veja os números:

Apesar de a pirataria ser sempre apontada como prejudicial, os autores alegam que ela pode ser benéfica. Como exemplo, eles citam o sucesso do SoundCloud, em que artistas podem postar suas músicas livremente, e o efeito promocional do YouTube, responsável por revelar novos talentos e por formar público.

Além disso, um estudo divulgado em 2012 pela Universidade Columbia, nos Estados Unidos, mostrou que as pessoas que baixam conteúdo na internet são aquelas que gastam mais dinheiro com música. Os piratas confessos têm 37% mais músicas do que as pessoas que não usam redes de compartilhamento P2P - e grande parte dessa coleção foi adquirida legalmente.

Para os autores, as políticas de repressão à pirataria, como a lei francesa que determina cortar a conexão de quem for flagrado baixando conteúdo ilegalmente, não são tão efetivas quanto alega a indústria de entretenimento. Na França, inclusive, a lei - chamada Hadopi - foi criticada pelo próprio ministério da Cultura - a repressão não reverteu o prejuízo da indústria e a lei foi considerada ineficaz.

A recomendação dos pesquisadores para a Inglaterra foi revisar o Digital Economy Act e adotar práticas mais flexíveis, como expandir o ‘uso justo’ (que permite o uso de obras para fins pessoais, por exemplo) e abrir mais exceções que permitam o uso.

“Nós todos (indústria e cidadãos) podemos explorar todo o potencial da internet. Isso vai maximizar a criação de conteúdo inovador para benefício de todas as partes interessadas”, escreveram os autores.