Hormônio acaba com o apetite e a alegria de comer

Hormônio acaba com o apetite e a alegria de comer

Você já parou para pensar como seu corpo se segura para não se fartar de comida até a morte? Pois é o hormônio leptina que provoca aquela conhecida sensação de saciedade. Agora, um estudo revela que, após as refeições, a leptina também coloca um breque em nosso “amor” pelos alimentos.

Os pesquisadores analisaram o cérebro de dois adolescentes vorazes à mesa, cujas células de gordura eram incapazes de secretar leptina normalmente mas que, após receberem o hormônio por uma semana, ficaram mais seletivos em relação às refeições. O tratamento com leptina reduziu a atividade em uma região do cérebro que fica aguçada quando nos deparamos com uma taça de sorvete ou outras guloseimas, de acordo com o estudo publicado na revista Science.

O resultado revela a primeira ligação entre a regulação da fome e da saciedade e o “amor” pela comida, diz Sadaf Farooqi, co-autora do estudo, do Addenbrooke`s Hospital, em Cambridge. Identificar outras moléculas que atuam nessas vias intrinsecamente ligadas, assim como estudos de vias similares podem levar à criação de novos medicamentos para controle do peso dentro de uma década, ela diz.

Os dois adolescentes do estudo – um menino de 14 anos e uma garota de 19, sofrem de uma rara deficiência congênita de leptina, o que os deixa sempre famintos, apesar de serem muito obesos, diz Faroogi.

Então, os adolescentes começaram a tomar injeções para substituir a leptina. Faroogi e seu colega Paul Fletcher colocaram os garotos em uma máquina de ressonância magnética e pediram que dessem notas para imagens de alimentos que iam de comidas sem graça, como couve-flor e macarrão sem molho, a doces de dar água na boca como bolo e sorvete. Essa classificação foi feita após os dois terem se alimentado.

Antes de começar a injetar a leptina, eles classificaram as imagens com uma média de 8.9 pontos (a pontuação máxima era 10). “Eles gostam mesmo de todo tipo de comida”, diz Faroogi. As pontuações individuais corresponderam ao grau de atividade em uma região cerebral chamada nucleus accumbens, afirmam os pesquisadores.



Satisfeito com a leptina: imagens de ressonância em adolescentes deficientes em leptina, e que receberam injeções do hormônio, revelam que seus cérebros respondiam mais a alimentos apetitosos antes das refeições mas não depois delas, em vez de ficarem ativos o tempo todo




No entanto, durante a primeira semana de tratamento com leptina, os adolescentes ficaram saciados mais rapidamente, tiveram menos fome e se tornaram mais seletivos em relação aos alimentos. Com os novos hábitos alimentares, a pontuação das imagens após uma refeição caiu para uma média de 5.9, e a atividade do nucleus accumbens ficou mais irregular.

“A leptina permite que eles distingam alimentos apetitosos daqueles sem graça”, diz Faroogi, da mesma maneira que indivíduos comuns após as refeições.

Os estudos sugerem que a genética é responsável por 40% a 70% do peso corporal adulto, mas os pesquisadores ainda não conhecem todos os culpados. Há quatro anos, a equipe de Faroogi descobriu que uma mutação separada no gene para o receptor melanocortina-4 aparece em 1% das pessoas obesas e em 5% a 6% de crianças severamente obesas.

O estudo dos caminhos da leptina provavelmente revelará muitos outros genes que influenciam os hábitos alimentares, explica Faroogi. Para estudiosos da obesidade, esse hormônio é uma refeição e tanto.