Astrofísica: Astrônomos amadores descobrem novo tipo de galáxia

Astrofísica: Astrônomos amadores descobrem novo tipo de galáxia

Centenas de milhares de voluntários ─ pessoas comuns ─ inscreveram-se para participar de uma tarefa extraordinária: identificar mais de um milhão de galáxias fotografadas nos últimos meses. E os amadores surpreenderam os astrônomos profissionais ao descobrir um novo tipo de galáxia, que tinha passado completamente despercebido deles.

 

 

 

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Especialistas acreditam que os novos objetos descobertos ─ espirais vermelhas ─ são um “elo perdido” para a compreensão de como esses aglomerados gigantes de bilhões de estrelas evoluem.

Os resultados que revelam várias dessas galáxias dispersas pelo Universo foram confirmados de forma independente por uma segunda equipe britânica, que utilizou o telescópio espacial Hubble.

Surpreendentemente, esse avanço no conhecimento cósmico foi feito por amadores aficionados ─ profissionais diferentes áreas ─ que se cadastraram no Galaxy Zoo, um projeto liderado pelo Reino Unido. Eles se auto-intitulam zooistas e formam uma comunidade muito unida.

O Galaxy Zoo foi idealizado por Chris Lintott, que apresenta com Patrick Moore, o programa The Sky At Night (O céu à Noite), exibido pela BBC britânica. Lintott, que também é astrofísico da Oxford University, comenta: “Tínhamos mais de um milhão de galáxias para analisar e logo percebemos que um ou dois pesquisadores não dariam conta do serviço”.

No ano passado, apresentei algumas palestras para promover a idéia do Galaxy Zoo e o interesse foi surpreendente. Depois de alguns dias do lançamento, nossa comunidade já estava analisando 75 mil galáxias por hora” Ter todo esse pessoal conectado deve equivaler a um dos mais potentes computadores do mundo. O sucesso do projeto ultrapassou em muito nossas previsões.”

Pedia-se aos zooistas que fizessem sua seleção clicando numa relação de mais de um milhão de galáxias distantes, registradas no fim de 2008 por um levantamento automático do céu, conhecido como Sloan Digital Sky Survey. Na análise feita pelos voluntários, muitas galáxias foram vistas pela primeira vez.

Os voluntários deveriam verificar a forma e a estrutura das galáxias e se tivessem forma helicoidal definiriam o sentido da espiral ─ horário ou anti-horário.

Foi uma surpresa encontrar tantas espirais vermelhas. Os astrônomos profissionais acreditam que elas formam uma população de galáxias identificadas recentemente, nas quais o gás necessário para a formação de novas estrelas se dispersou. Sua coloração se deve a um envelope de poeira que circunda as estrelas.

Galáxias espirais geralmente são branco-azuladas e repletas de estrelas jovens, como o Sol. Galáxias elípticas formam uma massa de estrelas, sendo que a maioria delas é vermelha, velha e morta, densamente agrupada.
Lintott acrescenta: “Essas galáxias passaram despercebidas no meio dos dados e ninguém as viu. Estavam bem à nossa frente. Agora, sabemos que um terço das espirais que estão nas bordas de alguns aglomerados de galáxias é vermelha”.

“As galáxias espirais antigas sofreram eventos violentos. Mas parece que essas galáxias vermelhas estão sendo estranguladas suavemente. É a diferença entre apertar delicadamente a garganta de alguém e arrancar-lhe a cabeça.”

Alice Sheppard é uma zooista dedicada, de 26 anos, que administra o fórum do Galaxy Zoo, em Pembrokeshire (Reino Unido). Ela revela: “o Galaxy Zoo tomou conta da minha vida, pois é a coisa mais interessante que já fiz e parece ser também a mais importante.”

“O fato de pessoas comuns poderem fazer uma descoberta como essa é surpreendente. Nem sempre o interesse pela ciência é valorizado, mas acho que as pessoas são muito mais atraídas pelo Universo que imaginam.”

O esquadrinhamento galáctico independente, denominado Stages, liderado por Meghan Gray, da University of Nottingham, confirmou o trabalho do Galaxy Zoo. Segundo Gray: “os dois projetos abordaram o problema de diferentes direções e é animador ver que cada um contribui independentemente para a solução do mesmo quebra-cabeça”.

O trabalho das duas equipes foi submetido recentemente para publicação no Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.