Documentos revelam: NSA não consegue espionar quem usa Tor

Documentos revelam: NSA não consegue espionar quem usa Tor

Agência norte-americana tentou, mas não conseguiu revelar identidades de quem navega anonimamente usando o protocolo

por Murilo Roncolato
Editora Globo
Ironia: NSA usou explicação da Electronic Frontier Foundation, entidade que luta pela liberdade e privacidade na web, para explicar o Tor (foto: reprodução)

Documentos revelados pelo ex-funcionário da inteligência americana Edward Snowden revelaram que a Agência Nacional de Segurança (NSA) dos Estados Unidos estabeleceu como meta a quebra do Tor, um protocolo de navegação que garante o anonimato de quem o usa. O documento evidencia o esforço da NSA, mas também sua frustração: a agência diz não ter tido “nenhum sucesso em revelar a identidade de algum usuário” e chamou o Tor de “rei da alta segurança”.

O Tor é um produto desenvolvido pela marinha americana, que foi gerido por muito tempo pela primeira geração de cypherpunks preocupados com a defesa da privacidade na internet e é, até os dias de hoje, o recurso mais utilizado por quem não quer ser vigiado no ambiente online ou vive em países onde as redes sofrem forte censura, como China e Irã.

Hoje, o desenvolvimento do programa é preservado pela Project Tor, organização que faz a gestão do protocolo. Ironicamente, o maior apoiador – financeiramente falando – do projeto é o governo americano. “Ele recebe cerca de 60% do governo dos EUA, primeiramente vem o Departamento de Estado e depois o Departamento de Defesa – que abriga a NSA”, diz o Guardian, responsável pela publicação dos documentos obtidos por Snowden. Google, Human Rights Watch e a Eletronic Frontier Foundation (EFF) também estão entre os patrocinadores.

Nos slides divulgados, existem afirmações da NSA considerando o Tor “muito seguro”, chama-o de “rei” e diz não existir candidatos “ao trono”. A uma das apresentações, reservada como “Top secret”, a NSA deu o título de “Tor fede”. Nela, se lê: "Nunca seremos capazes de revelar a identidade de todos os usuários do Tor a todo momento" e afirmam não terem tido "nenhum sucesso em revelar [a identidade de] algum usuário".

O tiro saiu pela culatra. A exposição do documento expôs não só que a NSA está de olho no Tor há tempos e as vulnerabilidades que ela tenta explorar, mas também deu nas mãos de todos os programadores do mundo a possibilidade de pensar em melhorias para tornar o Tor ainda mais intocável.

A justificativa para tamanho esforço se nota também no documento pelos termos usados. A NSA fala em “terroristas” usando a rede invisível. É sabido que entre os usuários do Tor estão diversos criminosos, isso porque há quem se aproveita do anônimato para realizar atividades à margem da lei. A navegação segue URLs próprias (terminadas em .onion), viajar por elas é se deparar com páginas de pedofilia, canibalismo, propaganda de serviço de matador de aluguel, lojas online que negociam drogas, armas, etc. Mas também se sabe que a “deep web” ou “web profunda” como é chamada essa camada mais difícil de se chegar do que a da “superfície” (endereços .com), também abriga atividades positivas.

É paradoxal. Usuários mais preocupados com sua privacidade e que, por isso, fazem uso de recursos desenhados para este fim são os mais propensos a serem monitorados, já que por buscarem “se esconder” na internet, são considerados – no caso, pela NSA – suspeitos.