Fundamentos para alcançar a Felicidade

Fundamentos para alcançar a Felicidade

Nos últimos anos, os investigadores dedicaram muito do seu tempo ao assunto relacionado com a felicidade, e a grande maioria estão de acordo com a importância na distinção entre a felicidade baseada nos valores e a felicidade hedónica, a felicidade de nos sentirmos bem. A felicidade de sentir-se bem é uma sensação baseada no prazer. Quando estamos num jogo de piadas ou fazemos sexo, experienciamos a felicidade de nos sentirmos bem. Dado que a felicidade de nos sentirmos bem é regulada pela lei dos retornos decrescentes. Este tipo de felicidade raramente dura mais que um bom par de horas. A felicidade baseada nos valores, é um senso de que a nossa vida tem um sentido e cumpre um propósito maior. Representa como que uma fonte espiritual e/ou moral de satisfação, decorrente do propósito e valores de vida. Dado que a felicidade baseada nos valores não depende da lei dos retornos decrescentes, não existe limite para quão significativas as nossas vidas podem ser.

Na actualidade na grande maioria das vezes olhamos para a felicidade de uma forma pouco saudável e prejudicial. Isto inclui abuso de comida, vício em drogas, sexo, jogo e poder, e ainda materialismo desenfreado. Será isto que nos faz felizes?
De acordo com os inúmeros estudos e experiências, existem oito fundamentos para a felicidade baseada nos valores:

  • Necessidade de contacto e ligação com as outras pessoas
  • Um senso de autonomia (caracterizado por independência pessoal e controlo)
  • Necessidade de auto-estima
  • Um senso de competência
  • Um senso de propósito
  • Ligação funcional com o próprio corpo
  • Conexão com a natureza e animais
  • Espiritualidade

CONTACTO E LIGAÇÃO COM AS OUTRAS PESSOAS

Como seres humanos, somos criaturas que nos desenvolvemos com base nos relacionamentos. Provavelmente a evolução desenhou-nos de forma a que independentemente daquilo que fizéssemos, faríamos melhor quando sentimos o suporte das outras pessoas. As relações são o âmago do ser humano. Tal como Paul Martin mostrou no seu livro The Sickening Mind, os relacionamentos governam o nosso sistema imunitário, têm grande influencia no tipo de doenças que temos e o quão rápido recuperamos das mesmas. Determinam a forma como nos sentimos acerca de nós próprios e sobre o mundo em geral. Ditam o nosso humor e os padrões comportamentais. Se a sua relação é harmoniosa, segura e enriquecedora, é por certo promotora de bem-estar, felicidade, resiliência e optimismo. Se a sua relação for o oposto, provavelmente aumentará a probabilidade à doença, incapacidade, tristeza, pessimismo e desesperança. Quando mais desligado for das boas relações com as outras pessoas, mais infeliz poderá vir a ser. A capacidade para cooperar com os outros foi a principal razão pela qual sobrevivemos enquanto espécie contra todos os predadores. Relacionamentos funcionais são extremamente importantes para nos proteger de sermos controlados pelas forças abusivas que existem na sociedade.

De acordo com algumas investigações os chimpanzés desenvolveram cérebros maiores que os macacos porque eles lidavam com redes sociais maiores e mais complexas. Os grupos humanos lidavam ainda com mais elementos da mesma espécie (para cima de cinquenta), requerendo cérebros ainda maiores que os seus semelhantes.
A nossa sociedade moderna, pelo contrario, é demasiado alargada até para os nossos cérebros expandidos pela evolução. Desta forma quando nos relacionamos com demasiadas pessoas, temos dificuldade em formar ligações funcionais, e por certo aumentamos os nossos níveis de stress.

Partilhar e trocar informação em grupos pequenos, sobre os nossos interesses, gostos e experiencias, promove a nossa felicidade. No entanto para obter os reais benefícios da ligação com os outros, para sermos verdadeiramente felizes e termos um sentimento de segurança, precisamos de determinadas relações específicas. Os seus relacionamentos devem preencher as suas necessidades humanas fundamentais, segurança física, segurança emocional, atenção e importância. As pessoas com as quais estabelece relações de proximidade, normalmente possuem os mesmos interesses, crenças, formas de estar e movimentam-se segundo um propósito comum.

Por outras palavras, para aumentar a soma das coisas que promovem a sua felicidade, os relacionamentos devem ser os mais próximos e funcionais possíveis. Com suporte, lealdade e pessoas amistosas perto de si, você não temerá a exclusão, e torna-se mais optimista, positivo e emocionalmente saudável.

AUTONOMIA

Autonomia é um sentimento de independência e um senso de estar em controlo sobre os seus relacionamentos e destino. É sobre ser-se um indivíduo no contexto de um grupo de suporte. Como tudo o que é significativo na nossa vida, a autonomia depende da qualidade dos nossos relacionamentos. Sem isso, a segurança é comprometida, o que dificulta a felicidade.
Na presente sociedade, muito poucas pessoas possuem autonomia total. De certa forma todos nós possuímos crises de identidade. Todos nós estamos constantemente na iminência de perder a nossa individualidade. Perder a sua autonomia é fácil e o processo é pernicioso. Considere o seguinte:

Investigadores têm vindo a concluir que a perda de autonomia conduz não só ao pessimismo e estados depressivos, mas também para a irritabilidade e hostilidade. Autonomia é muitas vezes confundida com a total ausência de necessidade dos outros ou da sociedade, com uma tendência para as pessoas se tornarem solitárias. Certamente a necessidade para controlarmos a nossa própria vida, pode conduzir-nos a percepcionar a separação como sinónimo de nos sentirmos controlados numa sociedade complexa. De facto não necessitamos de nos sentir como um eremita, para sermos independentes. Ter autonomia significa que temos poder de decisão sobre as nossas escolhas e temos uma palavra a dizer sempre que necessário, sobre todas as decisões que afectam as nossas relações.

Autonomia significa estar ciente das suas possibilidades e capacidades, compreendendo os seus limites. Isto significa que as outras pessoas vêem-nos como um indivíduo com necessidades, direitos, assim como um elemento pertencente à sociedade ou como membro de um determinado grupo, tais como: “consumista”, “pai”, “criança”, “jogador”, “aluno”, “trabalhador”. Quando você se torna num número ou em estatística, perde o senso de autonomia. Quanto menor for o controlo que temos na nossa vida, mais assustados e inseguros nos tornamos. Iniciamos uma postura de controlador e receamos que a autonomia dos outros é uma ameaça directa, ou tornamo-nos medrosos, submissos, depressivos e pessimistas. Mas este processo pode ser revertido quando você tem uma autonomia assertiva e funcional.

A reter: a autonomia pode definir-se como a habilidade para pensar, sentir, tomar decisões e agir por conta própria, assim como tomadas de decisões que envolvem não só o próprio indivíduo, mas também as relações que estabelece com os outros membros da família, seus pares ou pessoas fora do ambiente familiar.

Neste sentido, podemos identificar que, na nossa realidade, existe certa confusão quando nos referimos a esta temática. Por vezes, relacionamos a autonomia na crença do controle da sua própria vida; outras vezes, relacionamos com a possibilidade de ser livres, considerando a liberdade como possibilidade de fazer o que se quer, independente dos desejos e responsabilidade. Como se a nossa liberdade excluísse “o outro”, como se fosse necessário a desvinculação dos laços com as outras pessoas.

Dica: autonomia, como hoje é entendida, supõe que você possa, sim, ser livre, porém continuando a manter seus vínculos de relacionamento.

AUTO-ESTIMA

Você não pode ser feliz ou optimista, se não se sentir bem consigo próprio. E você não consegue sentir-se bem acerca de si mesmo num vácuo. A auto-estima é uma função da percepção que tem sobre como a outras pessoas o vêem. Ela sobressai quando você é elogiado, tratado como importante, ou lhe é dada a atenção apropriada. A auto-estima tem tendência a diminuir quando alguma destas três componentes não se verifica. Na verdade parece existir interesse para algumas pessoas ou alguns grupos sociais que você tenha uma baixa auto-estima, dado que não irá reclamar tanto no seu trabalho (ainda que não seja tão eficaz), não defenderá os seus interesses de forma aguerrida, e comprará mais coisas que não lhe são necessárias na tentativa de se sentir melhor.

A reter: a verdadeira auto-estima constrói-se através do suporte, do elogio, do encorajamento que você recebe daqueles que o rodeiam. Isto permite que você consiga ultrapassar as crenças negativas acerca de si próprio, provavelmente ainda vindas de quando era criança.

COMPETÊNCIA

O senso de competência faz parte da sua auto-estima e relaciona-se com a percepção do quão bem você é funcional na sua vida. Algumas pessoas percepcionam-se competentes em determinadas áreas, mas ainda assim mantêm uma baixa auto-estima. Sem uma forte crença de que desempenha bem e de forma eficaz, determinadas tarefas, e que estas capacidades são importantes e decisivas para os que o rodeiam, você não terá auto-estima nem felicidade. Na verdade não conseguirá ser autónomo, nem funcional na sua vida. Estes conceitos estabelecem uma relação de reforço entre si, se um for ou estiver afectado, toda a sua capacidade funcional fica comprometida.

A sociedade, os nossos pais e as pessoas em geral, jogam um papel bastante significativo, na construção da nossa competência. Por este facto ela constrói-se na relação com os outros. São os outros significativos que nos impulsionam, que nos apoiam e mostram os caminhos para uma competência mais funcional, e assim conseguirmos munirmo-nos de ferramentas para podermos atingir os nossos objectivos. Por este motivo quando toca à felicidade, também os outros jogam um papel preponderante para que possamos juntamente com eles, sentir a vibração do bem-estar, a satisfação de expressar-mos a energia do nosso contentamento – a felicidade.

   

A reter: nunca é tarde para trabalhar no seu senso de competência. Procure criar um ambiente que lhe dê suporte para fazer aquilo que melhor faz, torne as pessoas à sua volta em seus aliados, não críticos desmedidos, mas os que o apoiam, se interessam e lhe permitem mostrar o que de melhor existe em si.

PROPÓSITO

Pode ser muito incomodativo perguntar “porque é que estou aqui”. E dar por você a não obter resposta, ou a inclinar-se a responder aquilo que a nossa sociedade nos “empurra” a sentir, que o nosso propósito é ganhar dinheiro. Sem dúvida que o dinheiro é algo importante nas nossas vidas, é dele que vivemos ou sobrevivemos. Mas concordarão comigo que não deverá ser o nosso fim último, mas sim uma via para que possamos construir um propósito de vida que nos permita relativizar os acontecimentos do nosso dia-a-dia. Mais tarde ou mais cedo, acabamos por perceber que os valores, enriquecem a vida. O tempo encarrega-se de nos retirar a pretensão, seja pela idade, doença física ou emocional, um mau investimento, ou uma alteração nas políticas económicas. Sem um sendo de propósito, arriscamo-nos a entrar na via da depressão e pessimismo.

O trabalho é apenas uma parte da nossa vida. Devemos esforçar-nos para encontrar um significado fora da esfera económica ou de alguns papeis que representamos na vida. Devemos procurar um propósito que nos realize e nos ligue aos outros, no sentido de estimular o impulso inato de vivermos em grupo e para o grupo, e assim caminharmos para a felicidade sustentada.

LIGAÇÃO COM O CORPO

A alguns milhões de anos atrás para os nossos ancestrais terem uma visão separada do corpo teria sido quase tão ridículo como verem-se separados do contexto do seu grupo.
Sentir a brisa na pele, correr, deitarem-se no chão, sentir o calor do sol ou da água fria, arremessar de forma precisa uma lança, o prazer do sexo, tudo proporcionava uma enorme fonte de bem-estar e felicidade. Para muitos, estas e outras sensações corporais continuam a proporcionar bem-estar. O trabalho sedentário, a escola, a ausência de exercício, o menor esforço nas tarefas do dia-a-dia, a vergonha aliada à prática sexual, o stress crónico, os traumas, tudo isto joga um papel preponderante para nos separar deste aspecto vital de nós próprios, o corpo, e a necessidade que ele tem de ser exercitado. Para um maior aprofundamento acerca deste assunto, leia o nosso artigo: 29 benefícios da atividade física na sua saúde.

O nosso corpo e a relação que possamos desenvolver com ele, é sem dúvida uma mais-valia para o bem-estar e felicidade. Na verdade nós somos só corpo, nas suas mais variadas expressões. Deste emergiu uma consciência, que nos fez os seres mais inteligentes na terra, é importante que essa consciência nos faça estar cientes das necessidades que o corpo tem, e o quão satisfação e prazer retiramos dele, numa relação simbiótica de felicidade. Ignorá-lo, mal tratá-lo, é colocarmo-nos mais afastados de nós próprios e da nossa felicidade. Deveremos então, olhar para o corpo como uma experiência física e fonte de capacitação e felicidade.

CONEXÃO COM A NATUREZA

Todos nós já experienciamos um senso de união, serenidade e contentamento com a natureza. O seu poder deslumbrante, a sua beleza, a energia e a ligação que nos transmite, deixa-nos rendidos à imensidão da sua maravilha. Estejamos na montanha, numa floresta, no deserto, o mar ou num lago, sentimo-nos perto das nossas origens, perto do natural “nós”.

A grande maioria de nós, somo sensíveis à destruição da natureza, seja de uma floresta, ou pela extinção de um animal, pela degradação e poluição dos nossos rios, pelos fogos que deixam ao seu redor uma enorme devastação e cenário horrendo. Quem já não se sentiu perturbado por um estes cenários? Claro sim, todos nós em determinada altura, por qualquer razão, tivemos sentimentos de tristeza e mau estar perante alguns destes acontecimentos. Os nossos cérebros foram forjados para viver em pequenas comunidades mutuamente apoiadas no contacto com a natureza e animais. Quanto mais nos afastarmos deste ideal, mas stressados, deprimidos, pessimistas e infelizes nos tornaremos. Quando você estrutura os seus relacionamentos de acordo com as suas necessidades e com a sua vida de forma a estar em contacto com a natureza, promove a sua felicidade e confiança.

ESPIRITUALIDADE

Estamos neurologicamente orientados para a espiritualidade. Muitos investigadores chegaram a algumas conclusões que apontam no sentido de que sem uma orientação para a espiritualidade a felicidade pode ser afectada. Espiritualidade não implica necessariamente fé ou crença. É apenas uma sensação de capacidade para estar ligado a…, ou estabelecer relação com…, algo superior ou transcendente a nós próprios. Por vezes sentimos a espiritualidade como algo que nos diz que nos temos de render às evidências ou desprendermo-nos das coisas, por outro lado sentimos como algo que nos incentiva para a acção. Mas independentemente da forma que possa ter para você, a espiritualidade, tal como o senso de propósito, é uma arma poderosa contra o pessimismo e o desânimo.

Muitas forças na sociedade exercem, como que uma barreira contra a possibilidade de nos capacitarmos através da espiritualidade. Seja através de cultos ou da religião, medo de ser ridicularizado pelos colegas ou família, por uma ideia de que a ciência e a espiritualidade são inimigos (o que não é verdade). Mas os maiores obstáculos que enfrentamos talvez sejam o materialismo e o nosso sistema económico. A nossa sociedade parece estar fundada na assunção que o maior poder não está em nós mas sim numa poderosa multi-nacional ou na comunicação social. Por vezes quando estamos cheios de dúvidas, receios ou desesperados, descobrimos a nossa espiritualidade funcional.

Na verdade entendo que a espiritualidade é uma forma que todos nós em algum momento da nossa vida acabamos por encontrar.

Dica: entendo que é a maneira que cada um de nós tem para se relacionar consigo próprio, com o mudo e com os outros. Esta inter-relação, permite-nos ser maiores que nós próprios, tendo como resultado disso a compreensão que fazemos parte dessa grandeza.

Obter felicidade

Por muitas vicissitudes que nos acontecem na vida e em sociedade, estamos à mercê de podermos ser atingidos por aquilo que o psicólogo Norte Americano, Martin Seligman, o “pai” da psicologia positiva,  apelidou de “desamparo aprendido” e “pessimismo aprendido”. Isto surge quando apesar de todos os nossos esforços para resolver um determinado assunto que para nós é perturbador, por não termos emprego, sofrermos de solidão, um relacionamento destruído, ou a incapacidade para se sentir em paz, tudo isto ensina-nos a sermos pessimistas e a perder a crença numa vida com sentido.

No entanto transitar deste cenário catastrófico para uma visão mais optimista do mundo e da nossa vida é possível através do “optimismo flexível”. O optimismo flexível leva em consideração ambos, a realidade tal como ela por vezes se nos apresenta, pessimista, e por outro lado o optimismo obtido do conhecimento que temos e das oportunidades e possibilidades que existem para obtermos um futuro mais brilhante. Você pode promover as condições que favorecem um optimismo, rodeando-se de pessoas que lhe forneçam apoio e suporte, completando com os oito fundamentos atrás descritos.