Avanços da Saúde: Nova molécula sintética contra tuberculose

Avanços da Saúde: Nova molécula sintética contra tuberculose


O novo candidato a medicamento mostrou sinais promissores no tratamento da tuberculose.

A molécula sintética é eficaz em camundongos e não tem qualquer semelhança com os medicamentos existentes contra a tuberculose (TB), muitos dos quais se tornaram inadequados à medida que novas cepas de bactérias resistentes a remédios se desenvolveram.

Se for comprovado que a nova droga é segura e eficiente em humanos, ela poderá ajudar a combater uma doença que matou 1,4 milhão de pessoas só em 2011.

Uma equipe liderada por Kevin Pethe, um microbiólogo no Instituto Pasteur da Coreia, perto de Seul, examinou mais de 120 mil compostos durante um período de 5 anos.

Os experimentos consistiram em infectar células do sistema imune, chamadas de macrófagos, de camundongos com Mycobacterium tuberculosis, a bactéria que causa a tuberculose, e observar se os compostos candidatos a medicamento inibiam o crescimento bacteriano.

“Podemos monitorar a infecção diretamente dentro dos macrófagos, o que nos permite fazer uma triagem bem mais rápida de um grande número de substâncias químicas”, explica Pethe. Os testes reduziram a lista de candidatos para apenas um, que foi sintetizado e avaliado mais minuciosamente.

Os autores apresentaram seu relatório na Nature Medicine e mostraram que o composto antibacteriano sintético tem um novo mecanismo de ação: ele inibe a síntese de ATP, a substância química usada como fonte de energia pela maioria dos processos celulares, bloqueando assim o crescimento da M. tuberculosis.

Testes realizados na sequência mostraram que o composto era bem sucedido no tratamento de TB em camundongos. A molécula pertence a uma nova classe de substâncias químicas sintéticas que não tem nenhuma semelhança com os medicamentos existentes, fator que poderia dificultar resistência das bactérias.

Valerie Mizrahi, um biólogo especializado em TB na Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul, diz que o estudo “confirma a noção de que há novos alvos para remédios contra a TB por descobrir através da triagem de diversos grupos de compostos. Essa é uma boa notícia para o campo e deve ser comemorada”.

Próximos passos

O sucesso nesse estágio não garante que o composto levará a um tratamento eficaz em seres humanos.

Pethe diz que o candidato a medicamento passará para a fase I de testes clínicos no ano que vem para avaliar sua segurança e tolerabilidade em um pequeno grupo de voluntários saudáveis. No entanto, apenas 5% dos medicamentos que chegam à fase I, em todas as áreas de doenças, acabam sendo comercializados como produtos farmacêuticos.

Além disso, o processo de submeter o medicamento às próximas duas fases de ensaios clínicos exigiria um investimento substancial.

Em geral, as instituições financiadas pelo Estado, como o Instituto Pasteur da Coreia, têm se centrado na descoberta de remédios sendo que o ônus de desenvolvê-los fica a cargo da indústria farmacêutica.

O mercado de TB, no entanto, não dispõe de incentivos financeiros para atrair investimentos volumosos de grandes laboratórios farmacêuticos, dizem os especialistas.

A equipe de Pethe pretende transpor essa lacuna com o apoio do governo coreano e de uma empresa spin-off (que nasce a partir de um grupo de pesquisa de uma empresa, universidade ou um centro de pesquisa público ou privado com o objetivo de explorar um novo produto) chamada Qurient. “Nossa meta é fundir a pesquisa e o produto, um modelo que ainda não foi estabelecido no mundo”, explica Pethe.

“A tuberculose requer uma abordagem muito diferente da farmacologia tradicional”, observa Melvin Spigelman, presidente e executivo-chefe da TB Alliance, sediadaem Nova York.

Christopher Dye, um especialista sênior em TB na Organização Mundial de Saúde diz que as pessoas prestarão atenção e tomarão conhecimento da pesquisa inovadora, mas sublinha as complicações no desenvolvimento de medicamentos contra a TB.

Se a droga chegar às clínicas, outro desafio será usá-la criteriosamente para impedir a bactéria de desenvolver capacidade de reagir em curto espaço de tempo. “Só desenvolver um medicamento isoladamente não é o fim”, diz Dye. “Precisamos garantir que ele seja empregado corretamente e resguardado para evitar a resistência bacteriana”.

Enquanto isso, Pethe e sua equipe continuarão fazendo a triagem de novas moléculas a fim de encontrar mais candidatos a medicamentos contra a tuberculose. O tratamento dessa doença normalmente envolve coquetéis de diferentes remédios e Pethe espera que sua pesquisa forneça mais opções para os médicos trabalharem.

Este artigo foi reproduzido com a permissão da revista Nature. Ele foi publicado originalmente em 4 de agosto de 2013.