Lado direito ou lado esquerdo do cérebro? Não faz diferença

Lado direito ou lado esquerdo do cérebro? Não faz diferença

Volta e meia ressurgem nas redes sociais links para testes que se propõem a determinar se o cérebro de uma pessoa é mais “lado direito” ou “lado esquerdo”. Isso porque, como todo mundo sabe, o lado esquerdo do cérebro é lógico, matemático, preciso. O lado direito é intuitivo, emocional, poético. Senhor Spock é lado esquerdo. Dr. McCoy é lado direito. Xadrez é lado esquerdo. Ciranda-cirandinha é lado direito. Céticos são lado esquerdo. Astrólogos-alquimistas, lado direito. Certo?

 

Editora Globo

 

Desculpe cortar o barato mas, na verdade, não. “Os mitos mais perniciosos tendem a conter um grão de verdade, mas são enganadores ou super-simplificados”, escreve o neurocientista Steve Novella, no blog NeuroLogica. A suposição de que pessoas “podem ser caracterizadas como lado-direito ou lado-esquerdo em termos personalidade e do modo como seus cérebros processam informação” é, de acordo com Novella, “uma daquelas idéias da cultura popular que todo mundo sabe, mas que está simplesmente errada”.

O grão de verdade no núcleo do mito, prossegue o cientista, é o fato de que algumas funções cerebrais são lateralizadas – isto é, concentram-se, de modo predominante, num dos hemisférios. Um exemplo clássico é o da linguagem, que se concentra no hemisfério dominante (o esquerdo, para a maioria das pessoas).

O conceito de que algumas pessoas não mais “lado esquerdo” ou mais “lado direito” ignora alguns dados importantes, como o de que os dois hemisférios estão intimamente interligados, e funcionam dessa forma em todas as situações normais: para saber o que um hemisfério é capaz de fazer por conta própria, é preciso ou desconectá-los, por meio de cirurgia, ou desligar um deles, com uma injeção de anestésico.

Além disso, diversas funções importantes dependem de redes de neurônios que se espalham por ambos os hemisférios. “Algumas funções cognitivas superiores não lateralizam”, explica Novella. “Isso é particularmente verdadeiro nos lobos frontais, onde a maioria das funções é bilateral, incluindo a função executiva – a capacidade de planejar e controlar o próprio comportamento”.

A postagem no blog de Novella foi publicada no começo do ano passado: ele estava criticando uma escola que prometia personalizar as aulas, criando estratégias de ensino específicas para aproveitar as qualidades dos estudantes “mais lado esquerdo” e outras, para estimular os “mais lado direito”. Agora, em 2013, um estudo da Universidade de Utah veio reforçar o que ele havia escrito.

Depois de analisar o funcionamento do cérebro de mais de 1.000 pessoas, os pesquisadores concluíram que todo mundo usa mais ou menos o cérebro inteiro o tempo todo. “A lateralização das conexões cerebrais parece ser uma propriedade local, e não global, das redes cerebrais”, escreveram os autores. Os resultados desmentem a existência de indivíduos com “redes predominantes de ‘cérebro direito’ ou ‘cérebro esquerdo’ ”.