Saúde, stress e desempenho – triângulo organizacional

Saúde, stress e desempenho – triângulo organizacional

O stress lesivo é já considerado como um dos problemas de saúde do século XXI. Os seus efeitos são tão negativos para as pessoas, individualmente consideradas, como para as empresas. É impossível evitar, nos dias actuais, por razões de competitividade e dificuldades existentes no mercado, que as empresas não criem situações de pressão emocional.
Os trabalhadores vivem continuamente sob essa pressão, não só no ambiente de trabalho, como na vida em geral. Há, portanto, uma ampla área da vida moderna onde se misturam os stressores do trabalho e da vida quotidiana. As pessoas, além das habituais responsabilidades ocupacionais, além da alta competitividade exigida pelas empresas, além das necessidades de aprendizagem constante, têm que lidar com os stressores normais da vida em sociedade. É bem possível que todos esses desafios juntos superem os limites adaptativos levando a stress disfuncional.

De facto, a capacidade de uma pessoa para suportar o stress tem um limite. O stress prolongado provoca cansaço e tensão ao nível físico e mental, e aumenta o risco de se contraírem problemas de saúde (hipertensão, dores crónicas, exaustão, perda de concentração, ansiedade, depressão, entre outras), pelo que é considerado uma ameaça para a saúde.
Quer as empresas levem ou não em consideração, na sua cultura organizacional, o stress no trabalho e a saúde dos trabalhadores, o que é certo é que estes factores vão interrelacionar-se com outras vertentes, jogando um papel importante no rendimento, produtividade e desempenho dos trabalhadores. Assim sendo, ou se utiliza este triângulo (saúde, stress e desempenho) para maximizar, ou ele actua ao acaso, eventualmente provocando danos nos trabalhadores e, directa ou indirectamente, nas empresas. O que não se pode é fugir-lhe.

Fica pois ao critério das empresas a sua consideração. A não consideração apropriada dos efeitos do stress no trabalho, e de igual forma nos trabalhadores, acarreta consequências nefastas e estas acabam por reflectir-se num aumento de custos para a própria empresa. Absentismo, acidentes de trabalho, conflitos internos, declínio na qualidade do trabalho, perda de produtividade, são apenas alguns dos nomes para algumas dessas consequências nefastas.

AS BOAS PRÁTICAS NA PRÁTICA

A Agência Europeia para a Segurança e a Saúde no Trabalho, em 2002, realizou um evento intitulado de Semana Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho 2002, onde foram apresentados vinte exemplos de boas práticas no domínio da prevenção de riscos psicossociais e do stress. Os exemplos provieram de treze Estados-Membros da UE e incluíram pequenas e médias empresas, grandes empresas e organizações intermediárias a operar em sectores muito diferentes. Nem todos os elementos de todos os casos foram bem sucedidos. No entanto, verificaram-se resultados bastante positivos e algumas empresas desenvolveram as suas próprias soluções utilizando conhecimentos adquiridos a nível interno. Outras consideraram útil e económico utilizar consultores com conhecimentos especializados e experiência prática na prevenção do stress no trabalho. A maioria incluiu o envolvimento dos trabalhadores e dos seus representantes para identificar os problemas e desenvolver soluções; este é um factor crucial para o sucesso, dado que os trabalhadores detêm a experiência directa da situação de trabalho.

Decerto que eliminar ou erradicar o stress será uma tarefa utópica e, do ponto de vista evolutivo, talvez até catastrófico (dado que até um determinado nível, o stress poderá ser benéfico e saudável), é no entanto possível minimizar as suas consequências negativas. Podem por isso as organizações limitar o impacto do stress lesivo e problemas de saúde associados, aprendendo estratégias de controlo de situações desencadeadoras de stress, como também promover estilos de vida que permitam aos trabalhadores enfrentar o stress sem um elevado desgaste ou consequências que levem a problemas de saúde geral, implementando programas de prevenção e promoção da saúde. Esta é uma prática já implementada nos anos 90 nos EUA, no Canadá, no Brasil e norte da Europa, com resultados muito positivos para as empresas.

AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO

Uma gestão ineficaz do triângulo organizacional (saúde, stress e desempenho) contribui para o comprometimento da eficácia organizacional, reflectindo-se tal à posteriori no plano de negócios das empresas. Numa organização em que as fontes potenciadoras e geradoras de stress não sejam correctamente identificadas e controladas, corre-se o risco de ocorrer um acréscimo de custos que, sem muito esforço, seriam evitados. A gestão de stress organizacional e/ou a implementação de um programa de prevenção e promoção da saúde (que pode já contemplar a gestão de stress) nas empresas, passa por uma correcta análise dos sintomas e correspondente diagnóstico para uma implementação adequada às necessidades e objectivos empresariais.

   

Para que nas organizações e nas equipas de trabalho o desempenho vá ao encontro dos objectivos pretendidos, convém que os gestores sejam capazes de reduzir o número de situações stressantes com as quais os seus trabalhadores se deparam, não deixando que ocorram consequências nocivas. Por certo que, numa fase inicial são os próprios gestores que procuram formação e conhecimento nesta área. No entanto, a empresa pode implementar esses serviços em modelo de outsourcing a profissionais qualificados.

A promoção do bem-estar geral torna-se imperativa na modernização da cultura empresarial. Para existir um máximo rendimento dos trabalhadores é necessária a existência de disponibilidade física e mental. As estatísticas da Organização Mundial de Saúde falam por si. Caro empregador, faça a si mesmo a seguinte pergunta:

“Onde trabalham as pessoas que engrossam os números e os valores assustadores de problemas de saúde relacionados com o stress lesivo?” Por certo também na sua empresa.

O PROBLEMA ESCONDIDO

É impossível para uma organização manter um bom desempenho e a máxima rentabilidade com uma força de trabalho “doente”, exausta e desgastada. É possível que, actualmente, grande percentagem das empresas ainda não leve em consideração a promoção e prevenção da saúde no trabalho (apenas cumprem com a legislação). As empresas, por agora tentam a sobrevivência no mercado de trabalho. No entanto, sem dúvida que os custos elevados, derivados dos problemas escondidos e relacionados com a saúde e o bem-estar, irão conduzir as organizações à perspectiva triangular.